RESENHA: Quarto de Despejo | Carolina Maria de Jesus
- Marco Túlio G. Evaristo
- 1 de mar. de 2018
- 5 min de leitura

Título Original: Quarto de Despejo
Gênero: Diário, Escrita Realista
Editora: Ática
Ano de Publicação (BR - Esta edição): 2017
Número de Páginas: 199
Minha Nota: 5/5 <3
ISBN: 9788508171279
Sinopse:
Do diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus surgiu este autêntico exemplo de literatura-verdade, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. Com uma linguagem simples, mas contundente e original, a autora comove o leitor pelo realismo e pela sensibilidade na maneira de contar o que viu, viveu e sentiu durante os anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com seus três filhos.
Ao ler este relato-verdadeiro best-seller no Brasil e no exterior- você vai acompanhar o duro dia a dia de quem não tem amanhã. E vai perceber que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro jamais perdeu sua atualidade
Esse livro é tão profundo quanto o oceano. Um olhar melancólico de uma favela com todo o tipo de gente brasileira: negros, pobres, catadores de papel, latinha, entre outros. Esse livro relata por uma visão magnífica o dia a dia da população da Favela do Canindé, em São Paulo na década de 50 para a de 60.
Carolina é uma guerreira. Uma heroína. Junto aos seus três filhos, vivem em meio a sujeira, a fome e a miséria. Ela é mulher, mãe solteira de três filhos e habitante de uma favela prestes a ser destruída. O próprio quarto de despejo.
O livro trás em si uma carga emocional muito grande que é depositada sobre a nossa personagem principal: Carolina Maria de Jesus. Uma escrita realista revela o cotidiano de uma mulher em meio a pobreza. Ela levanta sempre muito cedo e vai catar papel para vender e ganhar uma miséria a fim de sustentar três crianças em seu barraco. Esse é o nosso cenário. O nosso plano de fundo.
"Eu classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos. O quarto de despejo."
Carolina deixa de comer para dar aos filhos. Saiu do interior de Minas Gerais para tentar uma vida melhor em São Paulo. Escritora descoberta por um jornalista, teve sua matéria publicada no jornal "O Cruzeiro" (muito famoso na época), onde relata o seu cotidiano no Canindé.

Esse livro não é somente uma auto-biografia, um diário ou papéis jogados na rua onde Carolina começou a escrever. Esse livro é o relato da vida de muitos. Embora tenha sido escrito á aproximadamente meio século, ele é muito atual.
Tudo o que Carolina escreve em seu diário são relatos do sentimento da fome, da miséria e da indignação contra políticos que só aparecem na favela antes da eleição e depois, quando recebiam os votos, desapareciam e não davam as caras lá tão cedo.
Muitos tem pouco e poucos tem muito. Isso também é um dos relatos não explícitos no livro, mas que você é capaz de enxergar. Ao longo do livro, eu chorei, eu ri de piadas, refleti sobre a vida que levo. Esse livro vai te transformar por dentro como nada nunca te transformou.
Fome não é apenas um sentimento de "Hoje eu estou com muita fome. Vou abrir o armário e ver o que tem. Olha! achei um pacote de biscoitos recheados!". Fome é quando você abre esse armário e você só encontra o vazio. Isso te consome por dentro e você é obrigado a ir atrás daquilo para favorecer sua família.
"A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago."
A relação entre a comunidade da favela é muito desigual. Muitas pessoas são amigas, mas certo número de pessoas são inimigas. Vemos o cotidiano do povo e o que todos eles passam para sobreviver e conviver uns com os outros.

Uma escrita errada, mas tão certa que toca o nosso coração sem piedade nem dó. Ao longo do livro, vemos erros de ortografia gravíssimos, mas os editores preferiram deixar assim para preservar o olhar arrebatador da autora.
Não é atoa que esse livro foi traduzido para mais de dez línguas diferentes e se tornou um best-seller mundial. Merece ser lido por todo o mundo e fazer, principalmente os políticos de nosso país, repensarem no que estão realizando no momento.
Mesmo não tendo o amanhã definido, Carolina batalha para não deixar seu lar cair no caminho errado. Mesmo sendo querida por uns e odiada e invejada por outros na favela, ela sempre realiza boas ações e se colocar no lugar do outro. Ela tem empatia, o que falta muito hoje em dia.
Ela constrói sonhos em seus pensamentos. Muitos deles não são realizados, como o sonho de ter um vestido rodeado por véu e ceda e o sonho de ter uma máquina de costura. Ou também, o sonho de dar alguns pares de sapatos para seus filhos.
"Escrevo a miséria e a vida infausta dos favelados. Eu era revoltada, não acreditava em ninguém. Odiava os políticos e os patrões, porque o meu sonho era escrever e o pobre não pode ter ideal nobre. Eu sabia que ia angariar inimigos, porque ninguém está habituado a esse tipo de literatura. Seja o que Deus quiser. Eu escrevi a realidade."
Carolina toma um espaço inimaginável na consciência de quem lê o livro. Ela faz várias referências sobre coisas e pessoas da época mostrando a sua indignação com a vida que leva, afinal, ninguém quer ter uma vida dessas, mas tem gente que ignora os problemas e continua lá, sorrindo até o canto da boca e votando nos políticos corruptos do nosso país.
Várias pessoas já desistiram de tentar sair da favela, desistiram de tentar uma vida melhor, mas ela nunca tem esse pensamento. Seus esboços e rascunhos de uma vida inteira são a única esperança de sair daquele lugar.
Com um final arrebatador, esse livro veio para ficar!

"16 de maio
Eu amanheci nervosa. Porque eu queria ficar em casa, mas eu não tinha nada para comer.
... Eu não ia comer porque o pão era pouco. Será que é só eu que levo essa vida? O que posso esperar do futuro? Um leito em Campos do Jordão. Eu quando estou com fome quero matar o Janio, quero enforcar o Adhemar e queimar o Juscelino. As dificuldades corta o afeto do povo pelos políticos"
Erros gramaticais permitidos pelos editores*
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<3 Uma boa leitura a todos vocês <3

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